A seleção brasileira se preparava para a Copa do México. Em São
Lúis, num amistoso contra os juniores do Peru, o atacante Éder dá uma
cotovelada em um garoto peruano. O árbitro o expulsa. No dia seguinte, Telê, o
treinador, corta o jogador.
No outro dia, um jornal coloca em primeira página: ‘’Telê cortou Êder’’. Outro jornal
publica:
‘’Êder foi cortado por Telê’’.
Qual a diferença? No primeiro caso, a oração está na voz ativa, porque seu
sujeito (Telê) é agente, ou seja, executa o processo verbal. No segundo, a voz
é passiva, porque o sujeito (Éder) é paciente, ou seja, sofre os efeitos do
processo verbal.
Quando o sujeito é agente, a voz é ativa. Quando é paciente,
a voz é passiva. No caso, o jornal que empregou a voz ativa colocou em destaque
o agente – Telê – e sua atitude. O jornal que empregou a voz passiva enfatizou
o paciente, o alvo da ação – Élder. Essa é a diferença básica entre a voz ativa e a passiva.
Na escola, infelizmente, os professores pedem aos alunos
que, burocraticamente, façam a troca da ativa pela passiva, sem explicar-lhes a
diferença expressiva entre uma e outra. Pois bem. Em português, em italiano, em
espanhol, existem duas estruturas para que se faça a chamada voz passiva. Quando
se diz ‘’Apartamento são alugados’’, emprega-se a chamada passiva analítica. Não
custa lembrar que o que é analítico é composto.
A passiva é analítica porque é feita com pelo menos dois
verbos (‘’ser’’ + particípio – no caso, ‘’são’’ + ‘’alugados’’). Essa estrutura
equivale a outra, em que se emprega apenas um verbo, associado à palavra ‘’se’’:
‘’Alugam-se casas’’. Essa é a palavra sintética. Note a concordância, que, no
padrão culto, é obrigatória.
No Brasil, na língua do dia-a-dia, nas placas, nos cartazes,
essa concordância morreu há um bom tempo. Alguns linguísticas se ocupam da
explicação do motivo disso. Não é essa minha tarefa. Cabe-me explicar os
mecanismos da norma culta, que, no caso do verbo com o ‘’se’’, qualquer
espanhol ou qualquer italiano que tenham frequentado a escola primaria dominam
perfeitamente.
Nosso problema é basicamente a escola, ruim, ineficiente no
que diz respeito a sua obrigação de ensinar aos alunos a língua culta. É isso.
Este texto foi escrito pelo professor Pasquale Neto
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