BACEN - 2013 - ÁREA 3 - QUESTÕES 109 e 110
110 - A alta dos preços internacionais do petróleo e o aumento das taxas de juros internacionais constituem alguns dos fatores responsáveis por esta crise.
Na área fiscal, as tarifas públicas foram corrigidas e os gastos públicos controlados. O objetivo era conter o déficit público que, segundo o ministro, alimentava a inflação e juntamente com as operações de esterilização do capital externo, tinham elevado a dívida pública mobiliária para 8% do PIB em 1978. Com essas medidas, os investimentos públicos foram reduzidos no período de 1979-80, mas. na administração direta, não houve retração dos gastos, porque os subsídios ainda cresceram no período.
As correções do câmbio e das tarifas públicas aceleraram a inflação, que saltou da média anual de 38% durante o governo Geisel para 93% ao ano em 1979-80. Essa mudança refletiu também uma mudança no regime de reajuste salarial, implementada em 1979: reconhecendo que o rápido aumento da inflação impunha perdas reais significativas aos salários, o governo mudou a periodicidade de reajuste dos salários nos setores públicos e privado, de anual para semestral, embora com restrições a reposição integral da inflação passada. Em janeiro de 1980, foi adotada a precificação da correção monetária em níveis inferiores aos da inflação vigente, visando, sem sucesso, induzir a expectativa de queda da inflação. As correções salárias frequentes alimentaram a inflação inercial.
Em suma, o modelo de ajuste externo implementado no período de 1979-80 se pretendia não recessivo, combinando controles fiscal e monetário com ajustes de preços relativos que, idealmente, favoreciam a balança comercial e recuperariam as contas públicas, resolvendo, ao mesmo tempo, os desequilíbrios externos e fiscal. Na prática, porém, esses ajustes de preços se tornavam inócuos, porque a aceleração da inflação corroía rapidamente os aumentos reais obtidos a cada rodada de correção. No biênio 1979-80,a recessão, de fato, foi evitada, por uma combinação de aumentos das exportações e ''crescimento inercial'' dos investimentos públicos e privados do II PND que estavam sendo finalizados.
Ajuste Externo e Estagflação no Período de 1981-84
O insucesso da estratégia de ajuste inicial, aliada ao agravamento do cenário externo, levou o governo a assumir, a partir de 1981, um modelo de ajuste explicitamente recessivo. O objetivo agora era a redução da absorção interna, de modo a gerar excedentes exportáveis. A política monetária ganhava o centro da atenções e a manutenção dos juros reais elevados era sua principal via de atuação. Os juros altos atuariam duplamente sobre o BP: reduzindo o déficit em conta corrente, através da redução da absorção interna; e; ao empurrarem as empresas para o mercado internacional, em busca de juros menores, atrairiam capital estrangeiro para financiar aquele déficit, que, reconhecidamente, não seria eliminado a curto prazo.
A política monetária restritiva gerou forte recessão no período de 1981-83. A recessão, aliada aos efeitos estruturais do II PND, promoveu a reversão dos déficits que caracterizam a balança comercial durante a década de 1970. Contudo, isso não amenizou a perda de reservas internacionais pelo país porque, em 1981, embaladas pelo alta dos juros internacionais, as despesas com rendas deram um salto. Além disso, diante dos riscos então atribuídos a países altamente endividados, como o Brasil, especialmente depois da moratória do México (setembro de 1982), os juros altos no mercado interno não foram capazes de atrair capital suficiente para cobrir as novas despesas. Assim, as reservas internacionais despencaram e o país se viu obrigado a pedir um empréstimo ao FMI no final de 1982.
O acordo do Brasil com o FMI em fins de 1982 foi o primeiro de uma série que, diante das dificuldades de solução do impasse externo aberto pela crise da dívida latino-americana, se estenderia praticamente até o final da década perdida, justificando, em grande parte, essa alcunha para os anos 80. O acordo com o FMI impôs maior rigor a política monetária restritiva em já em curso. A política cambial do ministro Delfim também foi reforçada no início de 1983, com nova maxidesvalorização de 30%.
No biênio 1983-84, a política fiscal tornou-se também restritiva(o que não tinha ocorrido até 1982): a carga tributária foi elevada em 1983 e os investimentos públicos foram drasticamente cortados, contribuindo para a redução da taxa de investimento da economia. A restrição não visava somente atingir a demanda agregada, mas também o próprio déficit público. O aumento da inflação erodia a receita real do governo, caracterizando o chamado ''efeito tanzi''. Além disso, elevava os encargos da dívida pública, através da correção monetária.
A indexação da dívida pública foi uma estratégia crescentemente usada pelo governo para facilitar o financiamento de seus déficits, através da proteção dos rendimentos dos títulos contra a corrosão inflacionária e contra o elevado custo de oportunidade representado por possíveis desvalorizações cambiais. Essa estratégia, iniciada com a criação da correção monetária em 1964, funcionou bem até fins da década de 1970, enquanto a inflação e o câmbio estavam sob controle. No ambiente instável do período de 1981-84, porém, a indexação da dívida tornou-se uma armadilha para o governo: a aceleração da inflação, s correções cambiais, a política de juros altos e, paralelamente, as Resoluções 432 e 230 mantinham o déficit nominal e, portanto, a dívida pública, em crescimento mesmo diante da política fiscal restritiva; Esta, por sua vez, se tornava também cada vez menos eficaz para gerar saldos primários (não financeiros) positivos, porque a política monetária e a instabilidade do período golpeavam duplamente a capacidade de arrecadação do governo: pela retração da economia e pelo efeito Tanzi. Assim, apesar da política fiscal restritiva, o déficit nominal do governo e a dívida pública mobiliária federal subiram.
A política de ajuste externo de 1981-84, mais uma vez auxiliada pelas mudanças estruturais promovidas pelo II PND, produziu superávits comerciais recordes em 1983 e 1984, explicados pela variação do quantum de exportações e importações. No primeiro caso, o aumento mais intenso se deu em 1984, como efeito da recuperação da economia mundial. No caso das importações, a maior contribuição para o ajuste externo ocorreu no período 1981-83, motivada pela recessão doméstica. Em 1984, o consumo, a FBCF e as importações pedem participação no PIB, em 1984, sendo essas perdas compensadas pelo aumento do peso relativo das exportações.
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