Um Modelo Dinâmico para Demanda Agregada e Oferta Agregada
Para simplificar, partiremos do pressuposto de que a economia sempre tem início no equilíbrio de longo prazo e passa, depois disso, a estar sujeita a algum tipo de mudança em uma das variáveis exógenas. Adotaremos, também, o pressuposto de que as outras variáveis exógenas são mantidas constantes.
Crescimento de Longo Prazo
O nível natural de produção na economia, Ῡ, se modifica ao longo do tempo em decorrência do crescimento populacional, da acumulação de capital e do progresso tecnológico. A figura abaixo ilustra o efeito de um crescimento em Ῡ.
Uma vez que essa variável afeta tanto a curva da demanda agregada dinâmica quanto a curva da oferta agregada dinâmica, ambas as curvas se deslocam. De fato, ambas se deslocam para a direita exatamente no mesmo montante em que cresceu Ῡ.
Os deslocamentos nessas curvas movimentam do ponto A para o ponto B o equilíbrio da economia apresentado na figura. A produção, Y, cresce exatamente no mesmo montante que o nível natural, Ῡ. A inflação permanece inalterada.
Um Choque na Oferta Agregada
Suponha que v cresça para 1% por um determinado período e, subsequentemente, retorne para zero. Em geral, o choque na oferta captura qualquer evento que influencie a inflação de modo que ela supere a inflação esperada Et-1πt e a atividade econômica corrente, conforme medido por Y-Ῡ.
A figura abaixo mostra o resultado.
No período t, quando ocorre o choque, a curva da oferta agregada dinâmica se desloca para cima, de OADt-1 para OADt. Para sermos precisos, a curva se desloca para cima exatamente na mesma dimensão do choque, que supomos como sendo de 1 ponto percentual. Uma vez que o choque na oferta, v, não é uma variável na equação para a demanda agregada, a curva DAD permanece inalterada. Portanto, a economia se movimenta ao longo da curva da demanda agregada dinâmica do ponto A para o ponto B. Como ilustra a figura acima, o choque na oferta no período t faz com que a inflação cresça para π e a produção caia para Y.
Esses efeitos operam, em parte, por meio da resposta da política monetária em relação ao choque. Quando o choque na oferta faz com que a inflação cresça, o banco central responde seguindo sua própria política e fazendo com que cresçam a taxa de juros nominal e a taxa de juros real. A taxa de juros real mais alta faz com que se reduza a quantidade demandada de bens e serviços, que pressiona a produção para um patamar abaixo do seu respectivo nível natural. O nível mais baixo de produção ameniza, até certo ponto, a pressão inflacionária, de tal modo que a inflação cresce um pouco menos do que o choque inicial.
Nos períodos subsequentes à ocorrência do choque, a inflação esperada é mais alta, já que as expectativas dependem da inflação passada. No período t+1, por exemplo, a economia está no ponto C. Embora a variável correspondente, v, retorne ao seu valor normal correspondente a zero, a curva da oferta agregada dinâmica não retorna imediatamente à sua posição inicial. em vez disso, ela se desloca lentamente para baixo de volta à sua posição inicial, OADT-1, uma vez que um nível mais baixo de atividade econômica reduz a inflação e, consequentemente, as expectativas de inflação futura.
Ao longo de todo esse processo, a produção permanece abaixo de seu nível natural.
Um Choque na Demanda Agregada
A figura abaixo mostra o resultado. No período t, quando ocorre o choque, a curva da demanda agregada dinâmica se desloca para a direita partindo de DADt-1 para DADt. Uma vez que o choque na demanda, ϵ, não constitui uma variável na equação da oferta agregada dinâmica a curva OAD permanece inalterada desde o período t-1 até o período t. A economia se movimenta ao longo da curva da oferta agregada dinâmica desde o ponto A até o ponto B. Tanto a produção quanto a inflação crescem.
Nos períodos posteriores à ocorrência do choque, a inflação esperada passa a ser mais alta, pois as expectativas dependem da inflação ocorrida no passado. Como resultado, a curva da oferta agregada dinâmica se desloca para cima repetidas vezes; à medida que passa a proceder assim, ela reduz continuamente a produção e faz com que cresça a inflação. Na figura, a economia se desloca do ponto B no período inicial do choque para os pontos C,D,E e F em períodos subsequentes.
No sexto período (t+5), o choque na demanda desaparece. Nesse momento, a curva da demanda agregada dinâmica retorna à sua posição inicial. Entretanto, a economia não retorna imediatamente à sua posição de equilíbrio inicial, o ponto A. O período de alta demanda fez com que crescesse a inflação e, consequentemente, a inflação esperada. A expectativa de inflação alta mantém a curva da oferta agregada dinâmica mais alta do que estava inicialmente. Como resultado, quando a demanda cai, o equilíbrio da economia se movimenta para o ponto G, e a produção cai para Yt+5, que está abaixo de seu nível natural. A economia, a partir de então, gradualmente se recupera, à medida que a inflação mais alta do que a meta é empurrada para fora do sistema.
Um Deslocamento na Política Monetária
Suponha que o BC decida reduzir sua meta para a taxa de inflação. Especificamente, imagine que, no período t, π* caia de 2% para 1% e, a partir de então, permaneça em seu nível mais baixo. Vamos considerar como a economia reagirá a essa mudança na política monetária.
Lembre-se que a meta de inflação se insere no modelo como uma variável exógena na curva da demanda agregada dinâmica. Quando a meta de inflação diminui, a curva DAD se desloca para a esquerda, conforme mostrado na figura abaixo.
Quando o BC diminui sua meta para a inflação, a inflação corrente está, nesse momento, acima da meta, de tal modo que o BC segue sua regra política e faz com que cresçam a taxa de juros real e a taxa de juros nominal. a taxa de juros mais alta reduz a demanda por bens e serviços. Quando cai a produção, a curva de Phillips nos informa que a inflação também cai.
A inflação mais baixa, por sua vez, reduz a taxa de inflação que as pessoas esperam que prevaleça no período subsequente. No período t+1, a expectativa de inflação mais baixa desloca a curva da oferta agregada dinâmica em sentido descendente, para OADt+1. Esse deslocamento movimenta a economia do ponto B para o ponto C, reduzindo ainda mais a inflação e expandindo a produção. Ao longo do tempo, à medida que a inflação continua a cair e a curva OAD continua a se deslocar em direção a OADfinal, a economia se aproxima de um novo equilíbrio de longo prazo no ponto Z, onde a produção está de volta em seu nível natural (Yfinal = Ῡtodos) e a inflação está em sua nova meta mais baixa (π*, t+1...=1%).
3 - DUAS APLICAÇÕES: LIÇÕES PARA A POLÍTICA MONETÁRIA
O Perde Ganha entre Variabilidade da Produção e Variabilidade da Inflação
Considere o impacto sobre a produção e a inflação decorrente de um choque na oferta. De acordo com o modelo dinâmico para DA-OA, o impacto desse choque depende fundamentalmente da inclinação da curva da demanda agregada dinâmica. Em particular, a inclinação da curva DAD determina se o choque na oferta exerce um impacto grande ou pequeno sobre a produção e a inflação.
Esse fenômeno está ilustrado na figura abaixo. No painel (a), a curva da DAD apresenta-se praticamente plana, de tal modo que o choque exerce um efeito pouco significativo sobre a inflação, mas um efeito bastante significativo sobre a produção.
No painel (b), a curva da demanda agregada dinâmica tem formato íngreme, de tal modo que o choque exerce um efeito bastante significativo sobre a inflação, mas um efeito pouco significativo sobre a produção.
Por que esse fatp é importante para a política monetária? Porque o BC tem a capacidade de influenciar a inclinação da curva da DAD.
Por um lado, suponha que, ao estabelecer a taxa de juros, o BC reaja fortemente à produção. Nesse caso, o coeficiente relacionado à inflação da equação apresentada é grande. Ou seja, uma pequena variação na inflação exerce um efeito bastante significativo sobre a produção. Como resultado, a curva da DAD é relativamente é plana, e choques na oferta exercem efeitos muitos significativos sobre a produção, mas pouco significativos sobre a inflação. Eis o que ocorre: quando a economia passa pela experiência de um choque na oferta que empurre para cima a inflação, a regra de política do BC reage a isso vigorosamente por meio de taxas de juros mais altas. Taxas de juros vertiginosamente mais elevadas reduzem significativamente a quantidade de bens e serviços demandada, acarretando, assim, uma forte recessão que amortece o impacto inflacionário do choque (que era o propósito da reação da política monetária).
Por outro lado, suponha que, ao estabelecer a taxa de juros, o BC reaja pouco significativamente à inflação, mas bastante significativamente à produção. Nesse caso, o coeficiente relacionado à inflação da equação apresentada é pequeno, o que significa que até mesmo uma grande variação na inflação exerce apenas um efeito pouco significativo sobre a produção. Como resultado, a curva da demanda agregada dinâmica é relativamente íngreme, e choques na oferta exercem efeitos poucos significativos sobre a inflação. Ocorre exatamente o oposto de antes: agora, quando a economia passa pela experiência de um choque na oferta que empurre para cima a inflação, a regra de política do BC reage a isso com taxas de juros apenas ligeiramente mais altas. Essa reação pouco significativa por meio da política econômica evita uma forte recessão, mas acomoda o choque inflacionário.
Em sua escolha sobre a política monetária, o BC determina qual desses dois cenários irá se desenrolar.
Observe que essa opção de troca do tipo perde-ganha é bastante diferente de uma opção de troca simples entre inflação e produção. No longo prazo desse modelo, a inflação caminha em direção à sua meta, enquanto a produção caminha a seu nível natural. Coerentemente com a teoria macroeconômica clássica, os formuladores de política econômicas não se deparam com um perde-ganha de longo prazo entre inflação e produção. Em vez disso, enfrentam uma escolha em relação a qual desses dois indicadores de desempenho macroeconômicos eles desejam estabilizar. Ao decidir sobre os parâmetros da regra para a política monetária, eles determinam se choques na oferta acarretam variabilidade na inflação, variabilidade na produção ou alguma combinação entre essas duas variabilidades.
O Princípio de Taylor
Em que montante a taxa de juros nominal estabelecida pelo BC deve reagir a variações na inflação?
O modelo dinâmico para DA-OA não proporciona uma resposta em definitivo, embora efetivamente proporcione uma diretriz importante.
Lembre-se da equação para política monetária:
i = π + p + θπ (π - π*) + θy(Y-Ῡ)
De acordo com essa equação, um crescimento de 1 ponto percentual na inflação, π, induz um crescimento de 1+θπ pontos percentuais na taxa de juros nominal, i. Uma vez que adotamos o pressuposto de que θπ é maior do que zero, sempre que a inflação cresce, o BC faz com que cresça a taxa de juros nominal em um montante ainda maior.
Imagine, no entanto, que o BC tivesse se comportado de modo diferente e, em vez disso, tivesse feito com que crescesse a taxa de juros nominal em um montante inferior ao crescimento da inflação. Nesse caso, o parâmetro para a política monetária, θπ, seria menor do que zero. Essa mudança alteraria profundamente o modelo. Lembre que a equação da DAD é
Y = Ῡ - [aθπ / (1+aθy)](π - π*)+[1/(1+aθy)]ᴇ
Se θπ é negativo, então um crescimento na inflação faria com que crescesse a quantidade de produção demandada, e a curva da demanda agregada dinâmica apresentaria inclinação ascendente.
Uma curva DAD com inclinação ascendente acarreta inflação estável, conforme ilustrado na figura abaixo.
Suponha que, no período t, exista um choque positivo na demanda agregada com duração de um período. No período t, a economia se movimenta do ponto A para o ponto B. A produção e a inflação crescem. No período subsequente, uma vez que a inflação mais alta fez com que crescesse a inflação esperada, a curva da oferta agregada dinâmica se desloca em sentido ascendente, para OADt+1. E economia se movimenta do ponto B para o ponto C. Contudo, como estamos neste caso, adotando o pressuposto de que a curva da DAD apresenta inclinação ascendente, a produção permanece acima do nível natural, ainda que o choque na demanda tenha desaparecido. Por conseguinte, a inflação cresce uma vez ainda, deslocando a curva OAD ainda mais para cima no período subsequente e movimentando a economia para o ponto D, e assim sucessivamente. A inflação continua a crescer sem qualquer perspectiva de fim.
Um choque positivo na demanda faz com que cresçam a produção e a inflação. Se o BC não faz com que a taxa de juros nominal cresça o suficiente, a taxa de juros real diminui. Uma taxa de juros real mais baixa faz com que cresça a quantidade demandada de bens e serviços. O maior nível de produção imputa ainda mais pressão ascendente sobre a inflação, que, por sua vez, diminui a taxa de juros real uma vez mais. O resultado é a inflação em movimento espiral e fora de controle.
O modelo dinâmico para DA-OA leva uma forte conclusão: para que a inflação seja estável, o BC deve reagir a um crescimento na inflação com um crescimento ainda maior na taxa de juros nominal. Essa conclusão é as vezes chamada de princípio de Taylor.
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