Considere as seguintes proposições em relação à teoria do consumidor, supondo-se uma cesta constituída de apenas dois bens, X e Y:
I. A inclinação da curva de restrição orçamentária depende da renda do consumidor e dos preços relativos dos bens X e Y.
II. O efeito total de uma variação de preços na escolha ótima do consumidor pode ser decomposto em dois efeitos: efeito-renda e efeito-substituição.
III. Se X for um bem de Giffen, o efeito-substituição é maior, em valor absoluto, que o efeito-renda.
IV. No ponto de escolha ótima do consumidor, a taxa marginal de substituição entre dois bens X e Y é igual à razão entre seus preços.
V. As curvas de indiferença têm sua concavidade voltada para baixo.
e) II, III e IV, apenas.
Que é uma função de primeiro grau, com coeficiente angular (= inclinação), em módulo, dado pela relação entre os preços unitários. Vejam que a inclinação não depende da renda. A renda só influi no coeficiente linear.
Item II - CERTO. Exemplificando, suponha que o preço de X aumente. Nesse caso, o consumidor, em termos relativos, fica mais "pobre", pois sua renda agora dá para comprar quantidades menores que cada bem (efeito renda). Além disso, ele tende a substituir X por Y, que ficou relativamente mais barato (efeito substituição).
Item III - ERRADO. Nos bens de Giffen ocorre justamente o contrário: o efeito substituição é menor, em valor absoluto, que o efeito renda.
O bem de Giffen é um bem inferior e, como tal, tem efeito renda positivo (quanto maior o preço de X, a quantidade consumida tende a aumentar). Além disso, tem efeito substituição negativo (quanto maior o preço de X, substitui o consumo por Y). No geral, o efeito renda supera o efeito substituição de modo que, para um aumento no preço de X, aumenta-se a quantidade consumida. Por conta disso, o bem de Giffen é uma exceção à lei da demanda (demanda cresce com o preço).
Item IV - CERTO. O equilíbrio do consumidor (ou ponto de escolha ótima) se refere à situação em que ele faz a escolha ótima da cesta de mercadorias, dada sua restrição orçamentária.
Trabalhando com um caso simples, de dois produtos, A e B, representamos no gráfico abaixo a reta de restrição orçamentária, e curvas de indiferença para a utilidade das cestas:
O eixo horizontal traz as quantidades do produto B. O eixo vertical traz as quantidades do produto A. A reta em preto representa a restrição orçamentária (conjunto de pares ordenados correspondentes às máximas quantidades de produtos que se podem comprar).
Em vermelho, temos três curvas de indiferença (I, II e III). Quanto mais à direita está a curva, melhor ela é para o consumidor, pois pode consumir mais produtos (quanto mais, melhor).
Assim, a curva III é melhor que a II. Só que os pontos que integram III estão acima da reta de restrição orçamentária. Logo, o consumidor não tem dinheiro para adquirir qualquer das cestas de mercadorias que compõem a curva III.
A curva II é melhor que a I. E a curva II está quase que inteira acima da reta de restrição orçamentária. Logo, o consumidor não pode consumir as cestas nela representadas. Há, no entanto, uma única exceção: trata-se da cesta representada pelo ponto "P", que é o ponto em que a reta de restrição orçamentária tangencia a curva II.
Logo, respeitando a restrição orçamentária, a curva de indeferença mais à direita possível que conseguimos atingir é justamente a curva II, e isso ocorre no ponto P.
Duas curvas diferentes são tangentes quando se tocam e, no ponto de intersecção, apresentam a mesma inclinação. Disto resulta que, no ponto ótimo (ponto P), a inclinação da reta de restrição orçamentária (= relação entre os preços) coincide com a inclinação da curva de indiferença. Esta última é justamente a taxa marginal de substituição.
Concluindo, no ponto de escolha ótima, a taxa marginal de substituição é igual à razão entre os preços. Isso tudo, em valores absolutos (pois a relação entre preços é positiva e a taxa marginal de substituição é negativa)
Item V - ERRADO. A premissa da convexidade nos diz exatamente o contrário.
Podemos também tratar do assunto analisando a taxa marginal de substituição.
As curvas de indiferença são decrescentes da esquerda para a direita (vide gráfico no item IV). Isso ocorre porque o consumidor só aceita diminuir seu consumo de A se puder aumentar o consumo de B. Assim, decréscimos na quantidade de um bem são acompanhados de acréscimos na quantidade do outro. Por isso a curva é decrescente. A taxa com que substituímos um bem por outro é a taxa marginal de substituição (TMS).
Além disso, a TMS é decrescente. Ou seja, à medida que temos muitos produtos B em nossa cesta, aceitaremos nos desfazer de uma quantidade cada vez menor de A, em troca de mais um acréscimo na quantidade de B. Isso ocorre porque, se já temos muitos produtos B, a utilidade marginal de adquirir mais um B vai diminuindo (utilidade marginal decrescente).
Gabarito: Letra D
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