CESPE - Analista do Ministério Público da União/Apoio Jurídico/Direito/2013

Nenhum problema da ética ou da filosofia do direito é tão difícil e complexo como o da justiça, e múltiplas são as razões para isso. Em primeiro lugar, a justiça é, ao mesmo tempo, uma ideia e um ideal, pois, se ela jamais se realizasse, ao contrário de se manifestar concretamente como um dos momentos necessários e mais altos da vida humana, seria mera suposição, uma quimera não merecedora de nossa constante atenção.

Todavia, por maiores que sejam os obstáculos opostos ao nosso propósito de desvendá-la, e mesmo quando proclamamos desconsoladamente a impossibilidade de chegar até ela pelas vias da razão, não desaparece nossa aspiração de que haja atos justos que dignifiquem a espécie humana. É que, ainda que não consigamos defini-la, não podemos viver sem ela.

Por outro lado, a justiça nunca se põe como um problema isolado, porque sempre se acha em essencial correlação com outros da mais diversa natureza, dos filosóficos aos religiosos, dos sociais aos políticos, dos morais aos jurídicos.

Nem podia ser de outra forma, em se tratando de uma das questões basilares da história, a qual não pode ser vista segundo uma continuidade linear, devendo ser vista como o desenrolar de ciclos culturais diferentes, com diversificadas conjunturas histórico-culturais.

Ora, cada ciclo ou conjuntura histórico-cultural tem sua experiência da justiça, a sua maneira própria de realizá-la in concreto, o que leva à conclusão de que, em vez de indagar acerca de uma ideia universal de justiça, melhor será tentar configurar, no plano concreto da ação, o  que sejam atos justos.
 
Miguel Reale. Variações sobre a justiça (I). In: O Estado de S.Paulo, 4/8/2001. Internet: <http://home.comcast.net> (com adaptações).

Considerando os sentidos e aspectos linguísticos do texto acima, julgue o item a seguir.

A forma adjetiva “histórico-culturais” poderia estar flexionada corretamente também como históricos-culturais.

Resolução:

Quando há uma composição de dois adjetivos (histórico-culturais) flexiona-se apenas o segundo elemento para concordar com o substantivo a que se refere. Na prática, é como se os dois adjetivos contassem como um só; por isso, apenas o segundo flexiona para o plural. Obviamente, há exceções a essa regra (o que é importante lembrar):

a) azul-celeste (invariável): pisos azul-celeste;
b) azul-marinho (invariável): camisas azul-marinho;
c) surdo-mudo (ambos variam para concordar): atendemos ontem dois surdos-mudos.

Gabarito: Errado




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