STN - 2013 Analista de Finanças e Controle - Questão 2 (específica)
Em suma, o modelo de ajuste externo implementado no período 1979-80 se pretendia não recessivo, combinando controles fiscal e monetário com ajustes de preços relativos que, idealmente, favoreciam a balança comercial e recuperariam as contas públicas, resolvendo, ao mesmo tempo, os desequilíbrios externo e fiscal. Na prática, porém, esses ajustes de preços se tornavam inócuos, porque a aceleração da inflação corroía rapidamente os aumentos reais obtidos a cada rodada de correção.
No biênio 1979-80, a recessão, de fato, foi evitada (o PIB cresceu à taxa média de 8% ao ano no período), por uma combinação de aumento das exportações e crescimento inercial dos investimentos públicos e privados do II PND, que estavam sendo finalizados.
No que tange ao BP, porém, o desequilíbrio externo não foi sequer amenizado entre 1979-80, porque:
(1) a maxidesvalorização de 1979 não se materializou em desvalorização real do câmbio, porque foi corroída pelo rápido aumento da inflação;
(2) apesar do forte crescimento das exportações, o déficit comercial aumentou, puxado pelo aumento dos preços (especialmente do petróleo) e, em 1979. também do quantum das importações;
(3) sob o efeito do aumentos dos juros internacionais, as despesas com rendas cresceram;
(4) os superávits da conta de capital não foram suficientes para cobrir os déficits correntes, tornando o BP deficitário.
Ajuste Externo e Estagflação no Período de 1981-84
O insucesso da estratégia de ajuste inicial, aliado ao agravamento do cenário externo, levou o governo a assumir, a partir de 1981, um modelo de ajuste explicitamente recessivo. O objetivo agora era a redução da absorção interna, de modo a gerar excedentes exportáveis. Na nova estratégia, a política monetária ganhava o centro da cena, e a manutenção de juros reais elevados era sua principal via de atuação. Os juros altos atuariam duplamente sobre o BP: reduzindo o déficit em conta corrente, através da redução da absorção interna, e, ao empurrarem as empresas (inclusive as estatais) para o mercado internacional, em busca de juros menores, atrairiam capital estrangeiro para financiar aquele déficit, que, reconhecidamente, não seria eliminado a curto prazo.
A política monetária restritiva foi efetivamente implementada até o fim do governo Figueiredo, gerando forte recessão no período de 1981-83. A recessão, aliada aos efeitos estruturais do II PND, promoveu a reversão dos déficits que caracterizam a balança comercial durante a década de 1970 - a balança torna-se superavitária a partir de 1981. Contudo, isso não amenizou a perda de reservas internacionais pelo país porque, em 1981, embaladas pela alta dos juros internacionais, as despesas com renda deram um salto para US$10,3 bilhões e outro em 1982, para US$13,5 bilhões. Além disso, diante dos riscos então atribuídos a países altamente endividados, como o Brasil , especialmente depois da moratória do México, os juros altos no mercado interno não foram capazes de atrair capital suficiente para cobrir as novas despesas.
Assim, as reservas internacionais chegaram a US$4 bilhões em 1982 e teriam sido ainda menos se o país não tivesse, ao fim desse ano, recorrido a um empréstimo do FMI, que injetou US$4,2 bilhões na conta de capital.
O acordo do Brasil com o FMI em fins de 1982 foi o primeiro de uma série que, diante das dificuldades de soluções do impasse externo aberto pela crise da dívida latino-americana, se estenderia praticamente até o final da ''década perdida'', justificando, em grande parte, essa alcunha para os anos 80. O acordo com o FMI impôs maior rigor a política monetária restritiva já em curso. Em 1983, a queda real do M1 e do crédito ao setor privado chegou, respectivamente a 36% e 26%. A política cambial do ministro Delfim também foi reforçada no início de 1983, com nova maxidesvalorização de 30%, que, dessa vez, resultou em desvalorização real.
No biênio 1983-84, a política fiscal tornou-se também restritiva: a carga tributária foi elevada em 1983 e os investimentos públicos foram drasticamente cortados, contribuindo para a redução da taxa de investimento da economia para 20% do PIB em 1983. Nesse caso, a restrição não visava atingir somente a demanda agregada, mas também o próprio déficit público. Essa deterioração fiscal refletia, de um lado, a resistência do gasto público à baixa e, de outro, os efeitos danosos do ajuste externo do período de 1979-80. O aumento da inflação erodia a receita real do governo, caracterizando o chamado ''efeito Tanzi''. Além disso, elevada os encargos da dívida pública, através da correção monetária. A maxidesvalorização cambial de 1979 e a política de juros altos a partir de então também afetaram as despesas financeiras do setor público, elevando os encargos das dívida interna e externa.
A indexação da dívida pública foi uma estratégia crescentemente usada pelo governo para facilitar o financiamento de seus déficits, através da proteção dos rendimentos dos títulos contra a corrosão inflacionaria e contra o elevado custo de oportunidade representado por possíveis desvalorizações cambiais. No ambiente instável do período de 1981-84, porém, a indexação da dívida tornou-se uma armadilha para o governo: a aceleração da inflação, as correções cambiais, a política de juros altos e, paralelamente, as resoluções 432 e 230 mantinham o déficit nominal e, portanto, a dívida pública, em crescimento mesmo diante da política fiscal restritiva. Esta, por sua vez, se tornava também cada vez menos eficaz para gerar saldos primários (não financeiros) positivos, porque a política monetária e a instabilidade do período golpeavam duplamente a capacidade de arrecadação do governo: pela retração da economia e pleo efeito Tanzi. Assim, apesar da política fiscal restritiva, o déficit nominal do governo e a dívida pública mobiliária federal subiram, respectivamente, para 24,6% do e 14,3% do PIB em 1983.
A política de ajuste externo de 1981-84, mais uma vez auxiliada pelas mudanças estruturais promovidas pelo II PND, produziu superávits comerciais recordes em 1983 e, principalmente em 1984, explicados, predominantemente, pela variação do quantum de exportações e importações. No primeiro caso, o aumento mais intenso se deu em 1984, como efeito da recuperação da economia mundial. No caso das importações, a maior contribuição para o ajuste externo ocorreu no período de 1981-83, motivada pela recessão doméstica.
O ajuste externo de 1984 caracteriza-se como parte do ajuste recessivo implementado a partir de 1981, já que refletiu uma mudança na distribuição do PIB entre os componentes da demanda agregada claramente favorável à transferência líquida de recursos reais ao exterior: em 1984, o consumo, a FBCF e as importações perdem participação no PIB, sendo essas perdas compensadas pelo aumento do peso relativo das exportações.
Gabarito: Letra D
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