IMUNIZAÇÃO E DURATION HEDGE
Imunização de um portfólio seria conseguir um "casamento" perfeito entre as durações dos títulos desse portfólio. É claro que estamos falando de casar direito e obrigações, de forma a zerar (ou reduzir) o risco de fluxo de caixa da empresa ou do fundo.
Imunização e Duration-Hedge
Imagine, por hipótese, que você deve R$ 1 milhão, com vencimento em 4 anos e taxa de 14% ao ano. Isso significa que terá que pagar R$ 1.688.960 ao final desse período. Você quer comprar um título com pagamento de cupons para garantir o pagamento dessa obrigação no futuro.
Para "garantir" uma imunização total ao título, será fundamental obter o seguinte:
Vamos trabalhar com as duas primeiras condições para ver como funcionaria essa imunização.
Nós veremos aqui que os fundos conseguirão "casar" taxas de juros a pagar e taxa de juros a receber. Isso é contra intuitivo para as pessoas físicas, pois, como sempre há um spread bancário, não faria sentido conseguir um empréstimo de 8% ao ano e uma aplicação de 12% ao ano. Você pegaria esse empréstimo, aplicaria, pagaria e teria um ganho livre de risco.
Mas lembre-se que fundos, como os de pensão, por exemplo, existem justamente para isso. Para obter rentabilidade investindo o dinheiro dos participantes e fazer pagamentos com base nessa rentabilidade. Por isso é absolutamente natural que as taxas obtidas com o ativos e as taxas a pagar dos passivos, sejam próximas para fundos.
Em resumo, não estamos falando do sistema bancário, que capta a 14% ao ano e empresta a 400%.
Precisamos obter um ativo que tenha valor presente de R$ 1 milhão e duração de 4 anos.
Olhando no mercado, verificamos que há um título com duração de 4 anos. É um título com cupom de 12% ao ano, vencimento em 5 anos e valor de face R$ 1.000. Á taxa de 14% ao ano, ele está cotado no mercado a R$ 931,34.
Quantos títulos precisamos comprar para termos R$ 1 milhão investidos?
O valor presente do título (taxa de 14%, cupom 12%) é calculada como se segue:
Na penúltima coluna temos os valores dos fluxos futuros (sem desconto) multiplicados pela quantidade de títulos. O valor presente desses fluxos está calculada na última coluna.
chegamos ao ano 1. Qual seria o valor de mercado do título imediatamente após o pagamento do cupom?
É simples! Basta trazer os 4 períodos seguintes (3 x R$ 120,00 + 1 x R$ 1.120) a valor presente, pela taxa de 14% (supondo que não mude).
O valor de mercado do título seria R$ 941,73, PORÉM não é esse o valor que o detentor do título disporá, pois houve pagamento de R$ 120,00 de cupom. Significa que seu patrimônio, parte em dinheiro recebido através do cupom, parte pelo valor presente (de mercado) do título seria R$ 1.061,73.
No ano seguinte, o investidor terá reaplicado seus R$ 120,00 à taxa de 14% (supondo ser essa a taxa à época) e receberá mais R$ 120. A soma desses dois valores (cupom reaplicado e cupom do dia) seria R$ 256,80. Além disso, o investidor ainda tem o título, cujo valor presente (de mercado) seria R$ 953,57. O total à disposição seria R$ 1.210,37.
No ano 4 (pulamos o ano 3), teríamos 3 cupons (1,2 e 3) reinvestidos, mais R$ 120,00 mais R$ 982,46 (valor do título no ano 4, taxa de 14% ao ano). Seriam R$ 470,54 mais R$ 120,00 mais 982,46 totalizando R$ 1.572,99 reais por título.
Multiplicando esse resultado pelos 1.073,72 títulos, esse investidor teria R$ 1.688.960.
Lembram da dívida que vencia em 4 anos? Pois ao comprar um título com duração de 4, mesmo valor presente e mesma taxa de juros, em 4 anos seria possível pagar dívida com o valor disponível do título.
Veja na planilha:
Mas isso não é grande benefício de se "casar" a duração dos ativos e passivos. A principal vantagem é a redução da exposição ao risco de variação das taxas de juros. Perto da duração o título não deveria oscilar muito. Oscilará um pouco, pois a duração se modifica, mas veja o que ocorre quando as taxas variam:
Perceba que, ao casar ativos e passivos pela duração, garantindo que o ativo tenha valor presente maior ou igual ao do ativo, houve significativa redução dos riscos de a variação da taxa de juros "descasar" os pagamentos e recebimentos.
Essas diferenças, mesmo para oscilações bruscas como de 14% para 5%, são pequenas, de menos de 1% do valor a ser pago.
Aqui vale relembrar que títulos com a mesma duração deverão ter a mesma sensibilidade às variações das taxas de juros. Para valores infinitesimais esse match é perfeito, para valores maiores, não é perfeito (pois a duração varia), mas a oscilação é bastante reduzida. Veja no quadro abaixo:
Perceba que, se os juros tivessem subindo para 25%, o Valor Presente do título (+ reinvestimentos) no ano 5 seria de R$ 2.131.174. Muito mais alto do que os R$ 1.688.960 necessários. Isso por força do reinvestimento dos cupons a taxas bem mais altas.
Importante colocar que estou usando Valor Presente no ano 4, para indicar qual seria o valor disponível (valor do título + cupom + cupons reinvestidos) no ano 4.
Há inúmeras técnicas para gestão e imunização de portfólios complexos, mas, prioritariamente, são técnicas numéricas, com programação em softwares específicos, rebalanceamento, etc.
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