MERCADOS PARA FATORES DE PRODUÇÃO

1 - MERCADOS DE FATORES COMPETITIVOS

Um mercado de fatores competitivos é aquele em que há um grande número de vendedores e de compradores de um fator de produção, como trabalho ou matéria-prima. Como nenhum vendedor ou comprador em particular pode influenciar o preço de determinado fator, cada um deles se constitui em um tomador de preços.

Demanda por um fator de produção quando apenas um fator é variável

Da mesma maneira que as curvas de demanda dos produtos acabados, resultantes dos processos produtivos, as curvas de demanda por fatores de produção apresentam inclinação descendente. Entretanto, ao contrário do que ocorre com a demanda dos consumidores por bens e serviços, as demandas por fatores são demandas derivadas, pois dependem e derivam do nível de produção de uma empresa e dos custos dos insumos. 

Suponhamos que a empresa tenha contratado determinado número de trabalhadores e queira saber se seria lucrativo contratar um empregado adicional. Tal contratação é justificada se a receita adicional decorrente da produção desse trabalhador adicional for maior do que o custo. A receita adicional resultante de uma unidade incremental de trabalho é denominada receita marginal do produto do trabalho, sendo indicada por RMgPl. O custo de uma unidade incremental de trabalho é a remuneração do trabalho, w. Assim, é lucrativo contratar mais mão de obra se RMgPl for pelo menos igual à remuneração, w.

A produção adicional é dada pelo produto marginal do trabalho, e a receita adicional pela receita marginal, RMg.

Em termos formais, o produto da RMg é ΔR/ΔL, onde L é o número de unidades de insumos trabalho e R é a receita. A produção adicional por unidade de trabalho, PMgl, é dada por ΔQ/ΔL, e a RMg é igual a ΔR/ΔQ. Como ΔR/ΔL = (ΔR)/(ΔQ)(ΔQ/ΔL), o que ocorre é

RMgPl = (RMg)(PMgL)

Em um mercado competitivo de produto, a empresa venderá o produto pelo preço de mercado P. A RMg obtida por meio da venda de uma unidade adicional de produto será então igual a P. Nesse caso, a RMg do produto do trabalho é igual ao produto marginal do trabalho vezes o preço do produto:

RMgPl = (PMgl)(P)

A mais alta das duas curvas na figura abaixo representa a curva RMgPl para uma empresa em um mercado competitivo de produtos finais. Observe que, em decorrência da existência de rendimentos decrescentes, o produto marginal do trabalho cai à medida em que a quantidade de trabalho vai aumentando. A curva de receita do produto marginal, portanto, tem inclinação descendente, mesmo que o preço do produto seja constante.


A curva mais baixa da figura acima é a curva RMgPl, que ocorre quando a empresa tem poder de monopólio no mercado de produto. Quando isso acontece, as empresas enfrentam uma curva de demanda descendente e, por esse motivo, devem reduzir o preço de todas as unidades de produto para poder vender maior quantidade dele. Em consequência, a RMg é sempre menor do que o preço. Isso explica porque a curva monopolística está abaixo da competitiva e por que a RMg cai à medida que a produção aumenta. Portanto, a curva de PMg tem inclinação descendente nesse caso, uma vez que tanto a curva de RMg quanto a curva de PMg possuem esse tipo de inclinação.

A condição de maximização de lucros é:

RMgPl = w

A figura abaixo ilustra essa condição. a curva de demanda de mão de obra, Dl, é a RMgPl. Observe que a quantidade demandada de trabalho vai aumentando à medida que a remuneração cai. Como o mercado de mão de obra é perfeitamente competitivo, a empresa pode contratar tantos trabalhadores quantos desejar pelo salário de mercado w* sem afetar o salário de mercado. A curva de oferta de mão de obra, Sl, com a qual a empresa se defronta é, portanto, uma linha horizontal. A quantidade de mão de obra capaz de maximizar os lucros da empresa, L*, encontra-se no ponto de interseção entre as curvas de oferta e de demanda.


A figura abaixo apresenta de que forma a quantidade demanda de trabalho varia quando ocorre uma queda no salário de mercado, passando de w1 para w2. A quantidade de mão de obra inicialmente demandada pela empresa, L1, encontra-se no ponto de interseção entre RMgPl e S1. Entretanto, quando a curva de demanda de trabalho se desloca de S1 para S2, a remuneração cai de w1 para w2 e a quantidade de trabalho demandada aumenta de L1 para L2.


A demanda por um fator de produção quando diversos insumos são variáveis


Quando dois ou mais fatores de produção são variáveis, a demanda da empresa por um fator de produção dependerá da curva de receita do produto marginal de ambos os fatores. Quando o salário é US$20, A vem a ser um ponto da curva de demanda de trabalho da empresa. Quando a remuneração cai para US$ 15, o produto marginal do capital aumenta, encorajando a empresa a adquirir mais equipamentos de produção e a contratar um maior número de trabalhadores. Por conseguinte, a curva RMgP desloca-se de RMgPl1 para RMgPl2, gerando um novo ponto C na curva de demanda de trabalho. Sendo assim, A e C são dois pontos na curva de demanda de trabalho, mas B não.

Oferta de insumos para uma empresa

Em um mercado competitivo, uma empresa poderá adquirir qualquer quantidade que desejar do insumo sem afetar o preço dele. Portanto, a empresa se defronta com uma curva de oferta perfeitamente elástica para esse insumo. Em consequência, a quantidade de insumos adquiria pelo fabricante do produto é determinada pela interseção das curvas de demanda e de oferta do insumo.

A curva de oferta AE com a qual a empresa se defronta na figura abaixo é a curva de despesa média (curva de oferta que representa o preço por unidade que uma empresa paga por certo bem). Por outro lado, a curva de despesa marginal representa a despesa da empresa com uma unidade adicional que ela adquire. A despesa marginal depende do fato de a empresa ser uma compradora competitiva ou uma compradora com poder de monopsônio.


Quanto insumo uma empresa que se defronta com um mercado competitivo de fatores deveria adquirir? Enquanto a curva de receita do produto marginal estiver acima da curva de despesa marginal, o lucro poderá ser aumentado pela aquisição de mais insumo, pois o benefício de uma unidade adicional (RMgP) ultrapassa o custo (DMg). Entretanto, quando a curva de receita do produto marginal estiver abaixo da curva de despesa marginal, algumas unidades resultarão em benefícios inferior ao custo. Portanto, a maximização de lucros requer que a receita marginal do produto seja igual à despesa marginal:

DMg = RMgP

No caso competitivo a condição de maximização de lucro é a de que o preço do insumo seja igual à despesa marginal

DMg = w

O mercado de oferta de insumos



Quando a taxa de salários aumenta, as horas de trabalho ofertadas apresentam de início uma elevação, mas podem começar a diminuir à medida que as pessoas optarem por mais lazer e menos trabalho. A parte da curva de oferta da mão de obra que possui curvatura para trás surge quando o efeito renda associado à remuneração mais elevada (que encoraja mais lazer) é maior do que o efeito substituição (que encoraja mais trabalho).

A figura abaixo mostra como uma curva de oferta de trabalho com curvatura para trás pode resultar da decisão de lazer-trabalho para um dia de semana típico. 



Quando a remuneração aumenta de 10 para 30 por hora, a linha de orçamento do trabalho é deslocada de PQ para RQ. A reação do trabalhador é passar do ponto A para o ponto B enquanto reduz as horas trabalhadas de 8 para 5 por dia. A redução das horas trabalhadas ocorre porque o efeito renda supera o efeito substituição. Nesse caso, a curva de oferta de trabalho passa a apresentar curvatura para trás.

Se houvesse apenas o efeito substituição a remuneração mais elevada encorajaria o trabalhador a trabalhar 12 horas por dia (no ponto C) em vez de 8 horas por dia. Entretanto, o efeito renda atua no sentido oposto. Ele supera o efeito substituição e ocasiona uma redução de 8 para 5 horas trabalhadas por dia.

2 - EQUILÍBRIO EM UM MERCADO COMPETITIVO DE FATORES

Um mercado competitivo de fatores está em equilíbrio quando o preço do insumo possibilita que a quantidade demandada seja igual à ofertada.


Em um mercado de trabalho competitivo, quando o mercado de produto também é competitivo, a remuneração de equilíbrio, wc, é obtida no ponto de interseção entre a curva de demanda de trabalho (curva de receita do produto marginal) e a curva de oferta de trabalho. Esse é o ponto A na parte (a) da figura acima. A parte (b) mostra que, quando o fabricante do produto tem poder de monopólio, o valor marginal, vm, de um trabalhador é maior do que a remuneração, Wm. Por isso, poucos trabalhadores são empregados. (O ponto B determina a quantidade de trabalho que a empresa contrata, bem como a remuneração paga).

Quando os mercados de produto e de insumo são perfeitamente competitivos, os recursos são utilizados de modo eficiente, pois é maximizada a diferença entre benefícios totais e custos totais. A eficiência exige que a receita adicional recebida pela empresa em decorrência de ter contratado uma unidade adicional de trabalho (a receita do produto marginal da mão de obra RMgPl) seja igual ao benefício para os consumidores do produto adicional que a unidade adicional de trabalho produz, dado pelo preço do produto vezes o produto marginal do trabalho, (P)(PMgL).

Quando o mercado de produto não é perfeitamente competitivo, a condição RMgPl = (P)(PMgL) não se mantém. Observe na figura (b) que a curva representando o preço do produto multiplicado pelo produto marginal do trabalho está situada acima da curva de receita do produto marginal [(RMg)(PMgL)]. O ponto B indica a remuneração de equilíbrio, wM, e a oferta de mão de obra de equilíbrio, LM. Mas, como o preço do produto é a medida do valor para os consumidores de cada unidade adicional da produção que adquirem, (P)(PMgL)é o valor que os consumidores atribuem ás unidades adicionais do insumo trabalho. Portanto, quando LM trabalhadores estiverem empregados, o custo marginal wM para a empresa será menor do que o benefício marginal para os consumidores vM. Apesar de a empresa estar maximizando os lucros, o nível de produção é menor do que o nível eficiente de produção, e a utilização de insumo pela empresa também está em um nível mais baixo do que o nível eficiente. A eficiência econômica aumentaria se mais trabalhadores fossem contratados e, em consequência, a produção aumentasse.

Renda Econômica

Para um mercado de fatores, renda econômica é a diferença entre os pagamentos destinados a um fator de produção e o valor mínimo que teria de ser despendido para poder contratar o uso de tal fator. 

A figura abaixo ilustra o conceito de renda econômica na forma em ele se aplica ao mercado competitivo de mão de obra. O preço de equilíbrio do trabalho é w* e a quantidade de trabalho ofertada é L*. a curva de oferta de trabalho tem inclinação ascendente e a curva de demanda de trabalho é a curva de Rmg do produto, que possui inclinação descendente. Pelo fato de a curva de oferta nos informar a quantidade de trabalho que deverá ser ofertada em cada nível de remuneração, a despesa mínima necessária para contratar L* unidades de trabalho é indicada pela região de coloração cinza-escura, AL*0B, abaixo da curva de oferta e à esquerda da quantidade de equilíbrio de trabalho ofertada, L*.


Em mercados perfeitamente competitivos, todos os trabalhadores recebem o salário w*. Tal salário é necessário para que o último trabalhador empregado (trabalhador marginal) oferte sua mão de obra. Mas todos os demais trabalhadores auferem renda econômica porque o salário recebido por ele é maior que o salário que eles necessitam receber para estarem dispostos a trabalhar. Como o total de remunerações pagas corresponde à área 0w*AL*, a renda econômica recebida pelo trabalho é representada pela área ABw*.

Observe que, se a curva de oferta fosse perfeitamente elástica, a renda econômica seria igual a zero. So há renda quando a oferta é relativamente inelástica. De fato, quando a oferta é perfeitamente inelástica, todos os pagamentos destinados a determinado fator de produção se constituem em renda econômica.

3 - MERCADO DE FATORES COM PODER DE MONOPSÔNIO

Em alguns mercados de fatores, certos compradores individuais possuem poder de compra, o que lhes permite interferir no preço que pagam. Em geral, isso acontece quando uma empresa é monopsonista ou quando há poucos compradores.

Poder de monopsônio: despesas marginal e média

Quando se decidem quais quantidades de um bem serão adquiridas, vai-se aumentando o número de unidades até que o valor adicional da última compra (o valor marginal) seja igual ao custo (despesa marginal). Em situação de competição perfeita, o preço que se paga pelo bem (despesa média) é igual à despesa marginal. No entanto, quando se tem poder de monopsônio, a despes marginal é superior à despesa média, como mostra a figura abaixo.


Quando o comprador de um insumo tem poder de monopsônio, a curva de despesa marginal está acima da curva de despesa média, porque a decisão de comprar uma unidade extra aumenta o preço a ser pago por todas as unidades, não apenas pela última. O número de unidades adquiridas é dado por L*, na interseção da curva de receita do produto marginal com a curva de despesa marginal. A remuneração correspondente, w*, é menor que a remuneração competitiva, wc.

Decisão de aquisição com poder de monopsônio

O monopsonista contrata L*unidades de trabalho; nesse ponto, DMg = RMgPL. A remuneração w* que os trabalhadores recebem é obtida encontram-se o ponto sobre a curva de despesa média ou curva de oferta com L* unidades de trabalho.

Um comprador com poder de monopsônio maximiza o benefício líquido (utilidade menos despesas) em uma compra adquirida insumo até o ponto em que o valor marginal (VMg) seja igual à despesa marginal (DMg):

VMg = DMg

Para uma empresa que adquire um fator de produção, VMg representa exatamente a receita marginal do produto do fator, RMgP. Portanto, temos:

DMg = RMgP

Observe na figura que o monopsonista contrata menos trabalho do que uma empresa ou grupo de empresas sem poder de monopsônio. Em um mercado competitivo, seriam contratados Lc trabalhadores. Nesse nível, a quantidade de demanda de trabalho (obtida na curva de receita de produto marginal) é igual à quantidade de trabalho ofertada (obtida na curva de despesa média). Observe também que a empresa monopsonista pagará aos trabalhadores uma remuneração w*, que é inferior à remuneração wc paga em um mercado de fatores competitivos.

4 - MERCADO DE FATORES COM PODER DE MONOPÓLIO

Assim como os compradores de insumo podem ter poder de monopsônio, os vendedores de insumo podem ter poder de monopólio. Em um caso extremo, o vendedor de determinado insumo pode ser um monopolista.

Poder de monopólio sobre o nível de salários

A figura abaixo mostra uma curva de demanda de trabalho em um mercado no qual não há poder de monopsônio; ela agrega as curvas de receita do produto marginal de empresas que concorrem para adquirir mão de obra. A curva de oferta de trabalho descreve a forma pela qual os trabalhadores sindicalizados ofertariam trabalho se o sindicato não exercesse nenhum poder de monopólio. Nesse caso, o mercado de trabalho seria competitivo e L* trabalhadores seriam contratados com a remuneração w*, em que a demanda DL é equivalente à oferta SL.


Entretanto, em face do poder de monopólio de que dispõe, o sindicato pode escolher qualquer nível de remuneração e a correspondente quantidade de trabalho ofertada, exatamente como faz o monopolista de um produto ao escolher o preço e determinar a correspondente quantidade a ser produzida. Se o sindicato estiver interessado em maximizar o número de trabalhadores contratados, ele optará pela solução do mercado competitivo, o ponto A. Entretanto, se tiver interesse em obter um nível de remuneração superior ao competitivo, o sindicato pode limitar o número de membros a L1 trabalhadores. Em consequência, a empresa pagará um salário w1. Embora os trabalhadores sindicalizados que possuem emprego fiquem em melhor situação, as pessoas que não conseguem emprego estarão em pior situação.

Para poder maximizar a renda, o sindicato deve escolher o número de trabalhadores contratados de tal modo que a receita marginal do sindicato (as remunerações adicionais) seja igual ao custo adicional de persuadir os trabalhadores a trabalhar. Esse custo é uma oportunidade marginal, pois é uma forma de medir o que o empregador tem a oferecer a um funcionário adicional para que este trabalhe na empresa. Contudo, o salário que é necessário para encorajar mais trabalhadores a aceitar os empregos é dada pela curva de oferta de mão de obra, SL.

A combinação entre taxa de salário e número de funcionários que maximiza a renda é dada pela interseção entre as curvas RMg e SL. Escolhemos a combinação de salário e quantidade de mão de obra, w1 e L1, tendo a premissa de maximização da renda em mente. A área acinzentada situada abaixo da curva de demanda, acima da curva de oferta de mão de obra e à esquerda de L1 representa a renda econômica que todos os trabalhadores recebem. 

Uma política que maximiza a renda poderia beneficiar os trabalhadores não sindicalizados se eles conseguissem encontrar trabalho fora da área de atuação do sindicato.



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