Acerca da economia brasileira na última década de 80, julgue (C ou E) o item subsequente.
O debate econômico da primeira metade da década de 80 resgatou uma interpretação estruturalista da inflação brasileira, especialmente quanto ao aspecto inercial da inflação, o que levou à tendência de adoção de estratégias mais defensivas para se antecipar à perda futura do poder de compra, com ajuste de preços não somente pela inflação passada.
Resolução:
A teoria estruturalista da inflação, desenvolvida pelos economistas da Cepal décadas antes da discussão nos anos 80, atribuía a origem do processo inflacionário a deficiências estruturais da economia.
Neste sentido, desequilíbrios no Balanço de Pagamentos, escassez de oferta em alguns setores, problemas em infraestrutura e de concorrência em setores chave seriam as causas da inflação.
Daí em diante, os conflitos distributivos a busca dos agentes econômicos para retomar seu poder de compra seriam responsáveis pela inércia inflacionária.
Vejamos, senão, importante definição de Lavínia Barros de Castro em Economia Brasileira Contemporânea, livro texto de referência inclusive para as bancas examinadoras:
“As chamadas teses heterodoxas de inflação, em contraposição, admitem a possibilidade teórica de inflação de demanda, melhor traduzida na frase de que, acima do pleno emprego, expansões fiscais geram inflação. Todavia, enfatizam que no mundo real e, em particular, em economias em desenvolvimento, onde a mobilidade dos fatores é menor e existem gargalos de oferta, estamos frequentemente diante de inflações de custos, que se transformam em processos inflacionários pela existência do conflito distributivo. A majoração de custos pode, como na visão ortodoxa, ser circunstancial, caso em que provocam apenas uma mudança temporária de preços relativos. Mas, em geral, são pressões recorrentes que revelam problemas estruturais da economia: desequilíbrios estruturais do Balanço de Pagamentos; estruturas agrícolas ineficientes; infraestrutura inadequadas; gargalos setoriais de oferta que, aliados a rigidez de preços, fazem com que excessos de demanda setoriais se transformem em elevações gerais de preços; estruturas oligopolizadas que usam o aumento de Mark-up (inflação de margens) como fonte de financiamento para a expansão da produção, inexistência de um mercado de crédito e de capitais desenvolvido etc. Nessa visão, as pressões de custos (ou de demanda, quando se está acima do pleno emprego) são fonte de aceleração inflacionária, porém, a inflação adquire um caráter inercial pela existência de um conflito distributivo latente ou institucionalizado — e tende a se manter constante. Cabe, porém, advertir que, ainda que institucionalizado por cláusulas de indexação contratuais, a inflação que tem por origem o conflito distributivo pode se acelerar. Isso ocorre, como vimos, quando os trabalhadores reivindicam o encurtamento dos períodos de reajustes.”
Neste sentido, os trabalhadores passaram a utilizar algumas estratégias defensivas para que se conseguisse diminuir a corrosão do salário pela elevada inflação.
Uma dessas estratégias era o encurtamento do período de reajuste.
A consequência disso é que períodos de reajuste mais curtos fazem com que a indexação da economia acelere o processo inflacionário e daí em diante se forma um ciclo vicioso de aumento da inflação e busca de mais proteção dela pelos trabalhadores.
Gabarito: Certo
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