Introdução às Oscilações Econômicas

1 - OS FATOS SOBRE O CICLO ECONÔMICO

Antes de refletir sobre os ciclos econômicos, analisemos alguns dos fatos que descrevam oscilações de curto prazo na atividade econômica. 

O PIB e seus componentes

O PIB da economia mede o total da renda e total dos gastos no âmbito dessa economia. Uma vez que o PIB constitui o aferidor mais abrangente para as condições gerais da economia, é o ponto natural para que se comece a análise do ciclo econômico. 

Desemprego e a Lei de Okun

O ciclo econômico torna-se aparente não somente nos dados extraídos das contas nacionais, mas também nos dados que descrevem as condições do mercado de trabalho. 

Que tipo de relação deveríamos esperar encontrar entre desemprego e PIB real? Uma vez que trabalhadores empregados ajudam na produção de bens e serviços, enquanto trabalhadores desempregados não contribuem para essa produção, crescimento na taxa de desemprego deveriam necessariamente estar associados a decréscimos no PIB real. Essa relação negativa entre desemprego e PIB é conhecida como Lei de Okun.

Principais Indicadores Econômicos

Uma das maneiras pelas quais os economistas chegam a seus prognósticos é por meio do exame dos principais indicadores, que são variáveis que tendem a oscilar antes da economia como um todo. Os prognósticos podem diferir em parte pelo fato de os economistas sustentarem opiniões diversas em relação a quais indicadores são mais confiáveis.

2 - HORIZONTES DE TEMPO NA MACROECONOMIA

De que modo o curto prazo e o longo prazo diferem entre si?

A maior parte dos macroeconomistas acredita que a diferença fundamental entre o curto e o longo prazo é o comportamento dos preços. No longo prazo, os preços são flexíveis e podem reagir a mudanças na oferta ou na demanda. No curto prazo, muitos preços ficam ''rígidos'' em algum nível predeterminado. Uma vez que os preços se comportam de maneira diferente no curto prazo em relação ao longo prazo, vários eventos econômicos e políticas econômicas exercem efeitos diferentes ao longo de diferentes horizontes de tempo.

O modelo da oferta agregada e da demanda agregada

Na teoria macroeconômica clássica, o montante de produto depende da capacidade da economia de ofertar bens e serviços, o que, por sua vez, depende das ofertas de capital e de mão de obra e da tecnologia de produção disponíveis. Preços flexíveis constituem um pressuposto primordial da teoria clássica. A teoria postula, às vezes de modo implícito, que os preços se ajustam de modo a garantir que à quantidade de produto demandada seja igual à quantidade ofertada.

A economia funciona de uma maneira bastante diferente quando os preços são rígidos. Nesse caso, o produto também depende da demanda da economia por bens e serviços. A demanda, por sua vez, depende de uma variedade de fatores: a confiança dos consumidores em relação a suas perspectivas econômicas; as percepções das empresas em relação à lucratividade de novos investimentos; e as políticas fiscal e monetária. Como a política monetária e a política fiscal podem influenciar a demanda, e a demanda, por sua vez, pode influenciar o produto total da economia ao longo do horizonte de tempo em que os preços permanecem rígidos, essa rigidez de preços proporciona uma fundamentação lógica para a razão pela qual essas políticas podem vir a ser úteis para a estabilização da economia no curto prazo.

2 - DEMANDA AGREGADA

Demanda Agregada (DA) é a relação entre a quantidade de produto demandada e o nível de preços agregados.

A equação quantitativa sob a forma de Demanda Agregada

A teoria quantitativa afirma que

MV = PY

em que M é a oferta monetária, V é a velocidade da moeda, P é o nível de preços e Y é o montante relativo à produção. Se a velocidade da moeda é constante, então essa equação enuncia que a oferta monetária determina o valor nominal da produção, que, por sua vez, é o resultado da multiplicação entre o nível de preços e o montante relativo à produção.

A equação pode ser reescrita em termos da oferta e da demanda por encaixes monetários reais:

M/P = (M/P)^d = kY

em que k = 1/V corresponde a um parâmetro que representa o montante, em termos de moeda corrente, que as pessoas desejam guarda em mãos para cada unidade monetária relativa à renda. Dessa maneira, a equação quantitativa enuncia que a oferta de encaixes monetários reais, M/P, é igual à demanda por encaixes monetários reais M/P^d e que a demanda é proporcional ao total da produção, Y.

A velocidade da moeda, V, corresponde ao contraponto em relação ao parâmetro da demanda por moeda, k. O pressuposto que trata da velocidade constante é equivalente ao pressuposto de uma demanda constante por encaixes reais monetários por unidade de produto.

Se partimos do pressuposto de que a velocidade, V, é constante e que a oferta monetária, M, é preestabelecida pelo BC, então a equação quantitativa produz uma relação negativa entre o nível de preços, P, e o produto, Y. A figura abaixo apresenta sob a forma de um gráfico as combinações entre P e Y que satisfazem a equação quantitativa, mantendo-se M e V constantes. Essa curva com inclinação descendente é chamada de curva da demanda agregada.

A curva de demanda agregada apresenta inclinação descendente: quanto mais alto o nível de preços, P, mais baixo o nível de encaixes monetários reais, M/P, e, por conseguinte, menor a quantidade demandada de bens e serviços.

A razão pela qual a curva de demanda agregada apresenta inclinação descendente

A equação quantitativa explica de modo bastante simples a inclinação descende da curva da demanda agregada. A oferta monetária, M, e a velocidade da moeda, V, determinam o valor nominal do total da produção, PY. Como PY é constante, no caso de P crescer, Y deve necessariamente diminuir.

Deslocamento na Curva de Demanda Agregada

A curva de DA é desenhada para um valor fixo de oferta monetária. Ela nos informa as possíveis combinações entre P e Y para determinado valor de M. Se o BC altera a oferta monetária, as possíveis combinações entre P e Y se modificam, o que significa que a curva da demanda agregada se desloca.



Alterações na oferta monetária deslocam a curva de oferta agregada. No painel (a), uma redução na oferta monetária, M, faz com que seja reduzido o valor nominal do produto, PY. Para qualquer nível de preços predeterminados, P, o total da produção, Y, é mais baixo. Por conseguinte, uma diminuição na oferta monetária desloca a curva da demanda agregada para dentro, de DA1 para DA2. No painel (b), um crescimento na oferta monetária, M, faz com que cresça o valor nominal do total da produção, PY. Para qualquer nível determinado de preços, P, o produto, Y, é mais alto. Por conseguinte, um aumento na oferta monetária desloca a curva da demanda agregada para fora, de DA1 para DA2.

3 - OFERTA AGREGADA 

A curva da demanda agregada e a curva da oferta agregada, conjuntamente, determinam o nível de preços e o montante de produto para economia.

A oferta agregada (OA) é a relação entre a quantidade ofertada de bens e serviços e o nível de preços. Como as empresas que ofertam bens e serviços apresentam preços flexíveis no longo prazo, mas preços rígidos no curto prazo, a relação da oferta agregada depende do horizonte de tempo. 

O Longo Prazo: A Curva Vertical da Oferta Agregada

Uma vez que o modelo clássico descreve o modo como a economia se comporta no longo prazo, derivamos a curva de OA de longo prazo a partir do modelo clássico. Lembre-se: o montante de produtos gerados depende dos montantes fixos de capital e mão de obra, e da tecnologia disponível.

Y = F(K,L)

De acordo com o modelo clássico, o total da produção não depende do nível de preços. Para demonstrar que o total da produção é fixo nesse nível, independentemente do nível de preços, desenhamos uma curva vertical para a OA, como se vê na figura abaixo.



No longo prazo a curva de OA é vertical. 

No longo prazo, a interseção entre a curva da demanda agregada a essa curva vertical para a oferta agregada determina o nível de preços.

Se a curva de demanda agregada é vertical, então as variações na demanda agregada afetam o preço mas não o total da produção. 


A curva vertical da OA satisfaz a dicotomia clássica, pois implica que o nível de produto independe da oferta monetária. Esse patamar de produção no longo prazo é chamado de nível de pleno emprego, ou nível natural, de produção ou produto.

O Curto Prazo: A Curva Horizontal da Oferta Agregada

No curto prazo, alguns preços são rígidos e, portanto, não se ajustam a variações na demanda. Em decorrência da rigidez dos preços, a curva de OA no curto prazo não é vertical. Como o nível de preços é rígido, representamos essa situação na figura abaixo com uma curva horizontal para a OA.


O equilíbrio da economia no curto prazo corresponde à interseção da curva de DA com essa curva horizontal da oferta agregada no curto prazo. Nesse caso, variações da DA afetam a produção a curto prazo. 



Do Curto Prazo para o Longo Prazo

De que modo a economia faz a transição do curto prazo para o longo prazo? Suponha que a economia esteja inicialmente no equilíbrio de longo prazo, como mostra a figura abaixo.


Existem três curvas nessa figura: a curva da demanda agregada, a curva da oferta agregada de longo prazo e a curva de oferta agregada de curto prazo. Quando a economia está no seu equilíbrio de longo prazo, a curva da oferta agregada de curto prazo deve também cruzar esse ponto.

Suponha, agora, que o BC reduza a oferta monetária e a curva de demanda agregada se desloque para baixo, como na figura abaixo.


No curto prazo, os preços são rígidos, de modo que a economia se movimenta do ponto A para o ponto B. Produção e emprego caem abaixo de seus níveis naturais, o que significa que a economia está em recessão. Com o passar do tempo, em reação à baixa demanda, os salários e os preços caem. A redução gradativa do nível de preços desloca a economia para baixo ao longo da curva de demanda agregada até o ponto C, que é o novo equilíbrio de longo prazo. No novo equilíbrio de LP (ponto C), a produção e o emprego estão de volta aos seus níveis naturais, mas os preços estão mais baixos do que no antigo equilíbrio de longo prazo (ponto A). Por conseguinte, um deslocamento na demanda agregada afeta a produção no CP, e esse efeito se dissipa ao longo do tempo à medida que as empresas ajustam seus preços.

4 - POLÍTICA DE ESTABILIZAÇÃO

As oscilações na economia como um todo se originam de variações na OA ou na DA. Os economistas chamam os eventos exógenos que deslocam essas curvas de choques econômicos. Um choque que desloca a curva de DA é chamado choque de demanda, enquanto um choque que desloque a curva de OA é chamado de choque de oferta.

Outro objetivo do modelo seria avaliar o modo como a política macroeconômica pode reagir a esses choques. Os economistas utilizam a expressão política de estabilização para se referir às ações políticas voltadas a reduzir a gravidade das oscilações econômicas de curto prazo. Uma vez que o total da produção e o emprego oscilam em torno de seus respectivos níveis naturais de longo prazo, a política de estabilização ameniza o ciclo econômico mantendo o total da produção e o emprego o mais perto possível de suas respectivas taxas naturais.

Choque na Demanda Agregada


A economia começa em situação de equilíbrio de longo prazo no ponto A. Um crescimento na DA, talvez decorrente de um crescimento na velocidade da moeda, desloca a economia do ponto A para o ponto B, onde o total da produção encontra-se acima de seu respectivo nível natural. A medida que os preços crescem, a produção gradativamente retorna a seu respectivo nível natural, e a economia se movimenta do ponto B para o ponto C.

Choques na Oferta Agregada

Um choque de oferta é um choque que ocorre no âmbito da economia e altera o custo da produção de bens e serviços e, como resultado disso, os preços que as empresas cobram. Pelo fato de exercerem um impacto direto sobre o nível de preços, os choques de oferta são às vezes chamados de choque de preços. 


Um choque adverso na oferta impulsiona para cima os custos e, assim, os preços. Se a demanda agregada é mantida constante, a economia se movimenta do ponto A para o ponto B, acarretando uma estagflação. A medida que os preços diminuem, porém, a economia retorna ao nível natural de produção, o ponto A.

Diante de um choque adverso de oferta, um formulador de políticas econômicas com a capacidade de influenciar a DA, como é o caso do BC, enfrenta uma difícil escolha entre duas opções. A primeira, representada na figura acima, diz respeito a manter constante a DA. Nesse caso, a produção e o emprego estão mais baixos do que o nível natural. Os preços terminarão por cair de modo a restabelecer o pleno emprego no nível de preços anterior (ponto A), embora o custo desse processo de ajuste seja uma dolorosa recessão.

A segunda opção, ilustrada na figura abaixo, seria expandir a DA de modo a conduzir mais rapidamente a economia em direção ao nível natural da produção. Caso o aumento na DA coincida com o choque na OA, a economia passa imediatamente do ponto A para o ponto C. Nesse caso, afirma-se que o BC acomoda o choque na oferta. Uma desvantagem decorrente desa opção, sem dúvidas, é o fato de que o nível de preços passam a ser permanentemente mais elevado. Não existe uma maneira de ajustar a demanda agregada e preservar o pleno emprego e manter estável o nível de preços.











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