Oferta Agregada e o ''Perde-Ganha'' de Curto Prazo entre Inflação e Desemprego

1 - A TEORIA BÁSICA DA OFERTA AGREGADA

Uma equação para a oferta agregada no curto prazo tem a seguinte forma:

Y = Ῡ + a(P - EP).

a>0,

em que Y corresponde ao nível da produção, Ῡ corresponde ao nível natural para a produção, P corresponde ao nível de preços e EP corresponde ao nível de preços esperado. A equação apresentada afirma que o nível da produção se desvia de seu nível natural quando o nível de preços se desvia do nível de preços esperado. O parâmetro a indica o montante em que o nível de produção responde a variações inesperadas no nível de preços; 1/a corresponde à inclinação da curva para a oferta agregada.

O Modelo de Preços Rígidos


A explicação mais disseminada aceita para a curva da oferta agregada de curto prazo com inclinação ascendente é chamada de modelo de preços rígidos. Esse modelo enfatiza que as empresas não ajustam imediatamento os preços que cobram em resposta a variações na demanda.

Considere a decisão sobre determinação de preços com a qual se depara uma empresa comum. O preço desejado da empresa, p, depende de duas variáveis macroeconômicas:

■ O nível geral de preços, P. Um nível de preços mais elevado sugere que os custos da empresa são mais elevados. Sendo assim, quanto mais alto o nível de preços, mais a empresa gostaria de cobrar por seu produto.

■ O nível da renda agregada, Y. 

Escrevemos o preço desejado da empresa como

p = P + a(Y - Ῡ)

Essa equação afirma que o preço desejado, p, depende do nível geral de preços, P, e do nível de produção agregada em relação ao nível natural, Y - Ῡ. O parâmetro a (que é maior que zero) mede o montante em que o preço desejado pela empresa reage ao nível de produção agregada.

Suponha, agora, que existem dois tipos de empresas. Algumas têm preços flexíveis; elas estabelecem sempre seus preços de acordo com essa equação. Outros têm preços rígidos, anunciam seus preços antecipadamente com base nas condições econômicas que esperam. Empresas com preços rígidos estabelecem seus preços de acordo com 

p = EP + a(EY - EῩ),

Para simplificar, adotamos o pressuposto de que essas empresas esperam que a produção esteja em seu nível natural, de modo que o último termo, a(EY - EῩ), seja igual a zero. Portanto, essas empresas estabelecem o preço

p = EP

Ou seja, empresas com preços rígidos estabelecem seus preços com base no que esperam que as outras empresas venham a cobrar.

Podemos utilizar as regras para determinação de preços dos dois grupos de empresas a fim de derivar a equação da oferta agregada. Para fazer isso, encontramos o nível geral de preços na economia, que corresponde à média ponderada dos preços estabelecidos pelos dois grupos. Se s é a fração de empresas com preços rígidos e 1-s é a fração com preços flexíveis, então o nível geral de preços é

P = sEP + (1-s)[P+a(Y - Ῡ)]

O primeiro termo corresponde ao preço das empresas com preços rígidos ponderados com base em suas respectivas frações na economia, enquanto o segundo termo corresponde ao preço das empresas com preços flexíveis ponderados com base em suas respectivas frações. Agora, subtrair (1-s)P de ambos os lados da equação para obter

sP = sEP + (1-s[a(Y - Ῡ)]

Divida os dois lados por s para encontrar o nível geral de preços

P = EP + [(1-s)a/s](Y - Ῡ)

Os dois termos dessa equação podem ser explicados da seguinte forma:

■ Quando as empresas esperam um nível de preços alto, elas esperam custos altos. As empresas que fixam seus preços antecipadamente estabelecem seus preços em altos patamares. Esses preços altos fazem com que as outras empresas também estabeleçam preços altos. Consequentemente, um alto nível de preços esperados, EP, acarreta um alto nível de preços, P.

■ Quando o nível de produção é alto, a demanda por bens é alta. As empresas com preços flexíveis colocam seus preços em altos patamares, o que acarreta um nível de preços alto. O efeito do nível de produção sobre o nível de preços depende da proporção de empresas com preços flexíveis.

Por conseguinte, o nível geral de preços depende do nível de preços esperados e do nível de produção.

Manobras algébricas colocam de forma mais simples e conhecidas essa equação para a determinação de preços agregados:

Y = Ῡ + a(P-EP),

em que a=s/[(1-s)a]. O modelo de preços rígidos afirma que o desvio do nível de produção em relação a seu nível natural está positivamente associado ao desvio do nível de preços em relação ao nível de preços esperado.

O modelo de Informação Imperfeita

Ao contrário do modelo anterior, esse modelo pressupõe que os mercados se equilibram - ou seja, todos os salários e preços estão livres para se ajustar a fim de equilibrar oferta e demanda. Nesse modelo, as curvas de oferta agregada de curto prazo e de longo prazo diferem em virtude de percepções equivocadas de caráter temporário em relação aos preços.

O modelo da informação imperfeita pressupõe que cada fornecedor no âmbito da economia produz um único bem e consome muitos bens. Como o número de bens é tão grande, os fornecedores não conseguem observar todos os preços durante todo o tempo. Eles monitoram atentamente os preços daquilo que produzem, porém monitoram menos atentamente os preços de todos os bens que consomem. Em razão da informação imperfeita, ele às vezes confundem variações nos preços relativos. Esse tipo de confusão influencia decisões sobre o quanto fornecer e acarreta uma relação positiva entre o nível de preços e o nível de produção no curto prazo.

O modelo da informação imperfeita enuncia que, quando os preços reais excedem os preços esperados, os fornecedores fazem com que cresça sua produção. O modelo sugere uma curva de oferta agregada com a forma conhecida:

Y = Ῡ + a(P-EP)

O produto se desvia do nível natural quando o nível de preços se desvia do nível de preços esperado.

2 - INFLAÇÃO, DESEMPREGO E A CURVA DE PHILLIPS

Dois objetivos dos formuladores de política econômica são baixa inflação e baixo nível de desemprego, mas frequentemente esses objetivos se conflitam.

A Curva de Phillips representa um reflexo da curva da oferta agregada de curto prazo: à medida que os formuladores de política econômica movimentam a economia ao longo da curva da oferta agregada de curto prazo, desemprego e inflação se movimentam em direções opostas. A curva de Phillips é uma maneia bastante útil de expressar a oferta agregada pelo fato de inflação e desemprego serem indicadores tão importantes para o desempenho econômico.

Derivando a Curva de Phillips a Partir da Curva da Oferta Agregada

A curva de Phillips em sua forma moderna enuncia que a taxa de inflação depende de três forças:

■ Inflação esperada;

■ O desvio do desemprego em relação ao nível natural, chamado de desemprego cíclico;

■ Choques na oferta.

Essas três forças estão expressas na seguinte equação:

π = Eπ - B(u - uᴺ) + v

Inflação = Inflação esperada - (B x Desemprego Cíclico) + Choque na Oferta

em que B representa um parâmetro que mede a reação da inflação ao desemprego cíclico. Observe que existe um sinal de subtração antes do termo correspondente ao desemprego cíclico: mantendo-se tudo o mais constante, o nível de desemprego mais alto está associado a uma inflação mais baixa.

Expectativas Adaptativas e Inércia Inflacionária

Uma suposição simples, e muitas vezes plausíveis, é que as pessoas formam suas expectativas de inflação com base na inflação recentemente observada. Essa suposição é chamada de expectativas adaptativas. Por exemplo, suponha que as pessoas tenham a expectativa de que os preços venham a aumentar no ano corrente à mesma taxa em que aumentaram no ano passado. Sendo assim, a inflação esperada, Eπ, é igual a inflação do ano passado, π-1:

Eπ = π-1

Nesse caso, podemos escrever a curva de Phillips como:

Eπ = π-1 - B(u - uᴺ) + v

que enuncia que a inflação depende da inflação passada, do desemprego cíclico e de um choque na oferta. Quando a curva de Phillips é escrita sob esse formato, a taxa natural de desemprego é as vezes como a taxa de desemprego que não acelera a inflação, ou NAIRU.

O primeiro termo nessa fórmula para a curva de Phillips, π-1, implica que a inflação é inercial, ou seja, a inflação passada alimenta a inflação presente.

No modelo de oferta agregada e demanda agregada, a inflação inercial é interpretada como deslocamentos ascendentes persistentes tanto na curva da oferta agregada quanto na curva da demanda agregada.

Duas Causas para Inflação Crescente e Inflação Decrescente

O segundo e o terceiro termo da equação para a curva de Phillips mostram as duas forças que podem modificar a taxa de inflação.

O segundo termo, B(u - uᴺ), ilustra que o desemprego cíclico - o desvio do desemprego em relação à sua taxa natural - exerce uma pressão ascendente ou descendente sobre a inflação. O baixo índice de desemprego empurra para cima a taxa de inflação. Esse efeito é chamado de inflação de demanda, já que o elevado nível de demanda agregada é responsável por este tipo de inflação. O alto nível de desemprego puxa a taxa de inflação para baixo. O parâmetro B mede a sensibilidade da inflação em relação ao desemprego cíclico.

O terceiro termo, v, mostra que a inflação também cresce e diminui em decorrência de choques na oferta. Um choque adverso na oferta, como é o caso da alta nos preços internacionais do petróleo na década de 1970, sugere um valor positivo para v e faz com que a inflação cresça. Esse efeito é chamado de inflação de custos, uma vez que choques adversos na oferta são, de um modo geral, eventos que empurram para cima os custos de produção.

O Perde-Ganha entre Inflação e Desemprego no Curto Prazo

A figura abaixo ilustra um gráfico para a equação da curva de Phillips e mostra a relação de troca do tipo perde-ganha entre inflação e desemprego no curto prazo.


Quando o desemprego está em sua taxa natural (u = uᴺ), a inflação depende da inflação esperada e do choque na oferta (π = Eπ + v). O parâmetro B determina a inclinação do perde-ganha entre inflação e desemprego. No curto prazo, para um determinado nível de inflação esperada, os formuladores de políticas econômicas podem mexer com a demanda agregada de modo a escolher uma combinação entre inflação e desemprego ao longo dessa curva, conhecida como curva de Phillips de curto prazo.

Observe que o posicionamento da curva de Phillips no curto prazo depende da taxa de inflação esperada. Se a inflação esperada aumenta, a curva se desloca para cima e a opção de troca do tipo perde-ganha para o formulador de políticas econômicas torna-se menos favorável: a inflação passa a ser mais alta para qualquer nível de desemprego. A figura abaixo mostra como o perde-ganha depende da inflação esperada.



Uma vez que as pessoas ajustam suas expectativas de inflação ao longo do tempo, o perde-ganha entre inflação e desemprego prevalece somente no curto prazo. O formulador de política econômica não consegue manter para sempre a inflação acima da inflação esperada (daí o desemprego abaixo de sua taxa natural). Com o passar do tempo, as expectativas se adaptam a qualquer taxa de inflação que o formulador de política econômicas tenham escolhido. No longo prazo, a dicotomia clássica prevalece, o desemprego volta à sua taxa natural e passa a não existir qualquer opção de troca do tipo perde-ganha entre inflação e desemprego.

Expectativas Racionais e a Possibilidade de Desinflação Indolor

Uma vez que a expectativa de inflação influencia a relação perde-ganha entre inflação e desemprego no curto prazo, é crucial compreender o modo como as pessoas formam suas expectativas.

As pessoas tem expectativas racionais. Ou seja, podemos pressupor que as pessoas preferencialmente utilizam todas as informações disponíveis, inclusive informações sobre as atuais políticas do governo, no intuito de realizar prognóstico sobre o futuro. Como a política monetária e a politica fiscal influenciam a inflação, a inflação esperada também deve depender da política monetária e da política fiscal que estão em vigência. De acordo com a teoria das expectativas racionais, uma mudança na política monetária ou fiscal transformará as expectativas. Uma avaliação sobre qualquer mudança política deve necessariamente incorporar esse efeito ás expectativas. Se as pessoas efetivamente constroem suas expectativas de maneira racional, pode ser então que a inflação tenha menos inércia do que, a princípio, possa parecer.

Os defensores das expectativas racionais argumentam que a curva de Phillips de curto prazo não representam precisamente as opções que os formuladores de política econômica têm à sua disposição. Eles acreditam que, se os formuladores de política econômica estiverem comprometidos em reduzir a inflação e desfrutarem de credibilidade para isso, as pessoas racionais compreenderão esse comprometimento e rapidamente baixarão sus expectativas em relação a inflação. A inflação pode, então, ser reduzida sem um crescimento no nível de desemprego e sem uma queda no nível de produção. De acordo com a teoria das expectativas racionais, as estimativas tradicionais sobre a taxa de sacrifício não são úteis para avaliar o impacto de políticas econômicas alternativas. Sob a égide de uma política econômica que tenha credibilidade, os custos inerentes a reduzir a inflação podem ser muito mais baixas do que sugerem as estimativas relacionadas à taxa de sacrifício.

No caso mais extremo, pode-se imaginar a redução da taxa de inflação sem que seja causada qualquer recessão em absoluto. Uma desinflação indolor apresenta dois requisitos. Em primeiro lugar, o plano para redução da inflação deve ser anunciado antes que os trabalhadores e as empresas que estabelecem salários e preços tenham criado suas expectativas. Em segundo lugar, os trabalhadores e as empresas devem acreditar nesse pronunciamento; caso contrário, não reduzirão suas expectativas de inflação. Se ambos os requisitos forem atendidos, o anúncio imediatamente deslocará para baixo o perde-ganha entre inflação e desemprego no curto prazo, permitindo uma taxa mais baixa de inflação sem um nível mais alto de desemprego.






Enviar um comentário

0 Comentários