CESPE - Analista do Ministério Público da União/Apoio Jurídico/Direito/2013

A parte da natureza varia ao infinito. Não há, no universo, duas coisas iguais. Muitas se parecem umas às outras, mas todas entre si diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as partículas do mesmo pó, as raias do espectro de um só raio solar ou estelar. Tudo assim, desde os astros no céu, até os micróbios no sangue, desde as nebulosas no espaço até as gotas do rocio na relva dos prados.

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais na medida em que se desigualam. Nessa desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante e não igualdade real.

Essa blasfêmia  contra a razão e a fé, contra a civilização e a humanidade, é a filosofia da miséria; executada, não faria senão inaugurar a organização da  miséria. Se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, no entanto, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança. Tal a missão do trabalho.
 
Ruy Barbosa. Oração aos moços. Internet: <http://home.comcast.net> (com adaptações).

Julgue o item seguinte, relativo ao texto acima apresentado.

Não haveria prejuízo para o sentido original nem para a correção gramatical do texto caso se inserisse quando ou se forimediatamente antes de “executada”.

Resolução:

Errado. Existe, no estudo de verbos, um tópico dedicado à correlação de tempos verbais, que trata dos tempos (e modos) verbais mais adequados para cada frase. Há, porém, algumas combinações de verbos que desrespeitam essa correlação. Vamos aplicar essa teoria à questão (note os tempos/modos verbais após as frases):

Hipótese 1: se fosse executada, não faria senão inaugurar a organização da miséria (imperfeito do subjuntivo/futuro do pretérito do indicativo). A relação entre os dois verbos em destaque é gramaticalmente correta? Sim, a correlação entre ambos respeita as combinações verbais gramaticalmente aceitas.

Hipótese 2: se for executada, não faria senão inaugurar a organização da miséria (futuro do subjuntivo/futuro do pretérito do indicativo). Nesse caso, note que a combinação verbal entre for e faria ocorre com prejuízo à correção gramatical, ou seja, os tempos/modos não combinam nessa situação. O mais adequado, se o for mantido, é flexionar o verbo fazer para o futuro do presente, para manter a correlação adequada entre os verbos: se for executada, não fará senão inaugurar a organização da miséria.

No caso do quando, estaria correto utilizá-lo, pois o verbo correlacional ficaria subentendido, em algo como: quando [fosse] executada, não faria senão inaugurar a organização da miséria.

Gabarito: Errado






Enviar um comentário

0 Comentários