Demanda Individual e Demanda de Mercado

1 - DEMANDA INDIVIDUAL

Modificações no preço

De que forma se modifica o consumo de alimentos e de vestuários quando ocorre uma variação no preço do alimento. A figura abaixo apresenta escolhas que uma pessoa poderá fazer quando estiver destinando um montante fixo de renda entre dois bens.



Inicialmente o preço do alimento é de $1 por unidade, o preço do vestuário é de $2 por unidade e a renda do consumidor é de $20. A escolha que maximiza sua utilidade localiza-se no ponto B. Nele, o consumidor adquiri 12 unidades de alimento e 4 de vestuário, atingindo o nível de utilidade associado à curva de indiferença U2.

Se o preço do alimento aumentar para $2, a curva de restrição orçamentária sofre uma rotação para a esquerda. O consumidor agora maximiza sua utilidade no ponto A. Se o preço de uma unidade de alimento caísse para $0.5, a linha de restrição orçamentaria deste consumidor iria sofrer uma rotação para a direita e sua utilidade seria maximizada no ponto D.

A Curva de Demanda Individual

Na figura(a) acima, a curva de preço-consumo representa as combinações maximizadoras de utilidade, compostas de alimento e vestuário. A medida que o preço cai, aumenta a utilidade deste consumidor. O que ocorre com o consumo de vestuário quando ocorre uma variação no preço dos alimentos? Depende de como vai ser a variação no preço dos alimentos. Se o preço subir, o consumo de vestuários sobe; se cair, o consumo de vestuários cai. 

A curva de demanda individual relaciona a quantidade de um bem que um único consumidor adquirirá com o preço desse bem. Na figura(b) acima, a curva de demanda individual relaciona a quantidade de alimentos que será adquirira pelo consumidor com o preço em questão. Tal curva possui duas propriedades importantes:

1 - O nível de utilidade que pode ser obtido varia à medida que nos movemos ao longo da curva. Quanto mais baixo o preço do produto maior o nível de utilidade. 

2 - Em cada ponto da curva de demanda, o consumidor estará maximizando a utilidade ao satisfazer a condição de que a taxa marginal de substituição (TMS) do vestuário por alimento seja igual a razão entre os preços desses dois bens. 

Bens Normais Versus Bens Inferiores

Quando a curva de renda-consumo apresenta uma inclinação positiva, a quantidade demandada aumenta com a renda e, por conseguinte, a elasticidade renda da demanda torna-se positiva. Quanto maiores forem os deslocamentos da curva de demanda para a direita, maior será a elasticidade da demanda. Nesse caso os bens são descritos como normais: os consumidores desejam mais do bem na medida em que sua renda aumenta.

Em alguns casos, a quantidade demandada cai à medida que a renda dos consumidores aumenta; a elasticidade renda da demanda é, assim, negativa. Então descrevemos esse bem como inferior. A figura abaixo apresenta uma curva de renda-consumo para um bem inferior.

Curvas de Engel

As curvas de renda-consumo podem ser utilizadas na construção de curvas de Engel, que relacionam a quantidade consumida de uma mercadoria à renda de um indivíduo. Na figura abaixo vemos como tais curvas são constituídas para dois bens distintos.



A primeira mostra a curva de Engel com inclinação ascendente. Na medida em que a renda aumenta o consumo de alimentos aumenta. Na segunda figura, temos o caso comparativo de um bem que é normal até determinada faixa de renda e depois passa a ser considerado inferior. Enquanto o bem for normal, a medida em que a renda aumenta, seu consumo aumenta. Quando ele se torna inferior, na medida em que a renda aumenta o seu consumo diminui. A parte da curva de Engel que tem inclinação descendente corresponde à faixa de renda para a qual o hambúrguer é considerado um bem inferior. 

2 - EFEITO RENDA E EFEITO SUBSTITUIÇÃO 

Uma redução no preço de uma mercadoria tem dois efeitos:

1 - Os consumidores tenderão a comprar mais do bem que se tornou mais barato e menos das mercadorias que se tornaram relativamente mais caras. Essa resposta a uma mudança nos preços relativos dos bens é chamada de efeito substituição.

2 - Como um dos bens se torna mais barato, há um aumento no poder de compra dos consumidores. Eles se encontram agora em uma situação melhor porque podem comprar a mesma quantidade de bens com menos dinheiro, tendo em mãos recursos para realizar compras adicionais. A mudança na demanda resultante da alteração desse poder de compra é chamada de efeito renda.

O aspecto característico de cada um encontram-se ilustrados na figura abaixo.



A linha de orçamento original é RS e há apenas duas mercadorias. Neste exemplo o consumidor maximiza a sua utilidade com a cesta A na curva de indiferença U1. 

Se o preço do alimento cair, a nova restrição orçamentaria passa a ser RT. O consumidor passa a escolher a cesta B sobre a curva U2. a variação total do consumo de alimentos ocasionada pelo preço menor é representada por A1A2. Inicialmente, o consumidor adquiria 0A1 unidades de alimento; após a alteração no preço, o consumidor passou a adquirir 0A2. Portanto, o segmento de reta A1A2 representa o aumento desejado na aquisição de alimentos. 

Efeito Substituição

A redução de preço cria um efeito substituição e um efeito renda. O efeito substituição é a modificação no consumo de alimento associada a uma variação em seu preço, mantendo-se constante o nível de utilidade. O efeito substituição capta a modificação no consumo de alimento que ocorre em consequência da variação do preço que o torna relativamente mais barato que o vestuário. Essa substituição é caracterizada por um movimento ao longo da curva de indiferença.

Na figura acima, o efeito substituição pode ser obtido desenhando-se uma linha de orçamento paralela a nova linha de orçamento RT mas que seja tangente a curva de indiferença original U1. Dada esta linha de orçamento, o consumidor escolhe a cesta de mercado D, obtendo OE unidades de alimento. Dessa forma, o segmento A1E representa o efeito substituição.

Quando o preço do alimento diminui, o efeito substituição sempre conduz a um aumento na quantidade demandada desse bem.

Efeito Renda

O efeito renda é a variação no consumo de alimento ocasionada pelo aumento do poder aquisitivo, mantendo-se constantes os preços relativos. Na figura acima, poderemos ver o efeito renda se partirmos da linha imaginária de orçamento, que passa pelo ponto D, e formos para a linha de orçamento original, RT, que é paralela à anterior e passa por B. O consumidor escolhe a cesta B, situada sobre a curva de indiferença U2. O aumento no consumo de alimento, passando de OE para OA2, é a medida do efeito renda, que é positivo, pois o alimento é um bem normal. Por refletir o movimento feito pelo consumidor de uma curva de indiferença para outra, o efeito renda mede a variação de seu poder aquisitivo.

Efeito total (A1A2) = Efeito substituição (A1E) + Efeito renda (EA2)

A direção do efeito substituição é sempre a mesma: um declínio no preço provoca um aumento no consumo do bem. Entretanto, o efeito renda pode fazer com que a demanda se modifique em qualquer uma das duas direções, dependendo de o bem ser normal ou inferior.

Um bem é inferior quando o efeito renda é negativo: quando a renda aumenta, o consumo cai. A figura abaixo apresenta o efeito renda e o efeito substituição para um bem inferior. O efeito renda negativo é medido pelo segmento EA2. Mesmo no caso dos bens inferiores, o efeito renda raramente é grande o suficiente para superar o efeito substituição. Consequentemente, quando o preço de um bem inferior cai, seu consumo quase sempre apresenta elevação.



Os bens de Giffen

O efeito renda teoricamente pode ser grande o suficiente para fazer com que a curva de demanda de um bem passe a ter inclinação ascendente. As mercadorias que se enquadram nesse perfil são denominadas bens de Giffen, e a figura abaixo mostra o efeito renda e o efeito substituição para esse caso.



De início, o consumidor encontra-se no ponto A, adquirindo relativamente pouco vestuário e muito alimento. Suponhamos que ocorra uma diminuição no preço do alimento. Tal diminuição libera renda suficiente para que o consumidor passe a desejar adquirir mais vestuários e menos alimentos, conforme indica o ponto B. A preferência revelada nos mostra que o consumidor está em melhores condições no ponto B do que no ponto A, mesmo consumindo menos alimento.

3 - DEMANDA DE MERCADO



A curva de demanda é obtida por meio da soma das curvas DA, DB e DC, correspondente à demanda individual dos nossos três consumidores. Para cada preço, a quantidade de café demandada pelo mercado correspondente à soma das quantidades demandadas individualmente. Por exemplo, ao preço de $4, a quantidade demandada pelo mercado é (11 unidades) é a soma das quantidades demandadas por A (0 unidades), B (4 unidades) e C (7 unidades).

Dois aspectos importantes dessa análise:

1 - A curva de demanda de mercado será deslocada para a direita à medida que mais consumidores entrarem no mercado.

2 - Os fatores influenciam a demanda de muitos consumidores também afetarão a demanda do mercado.

Elasticidade da demanda

A elasticidade preço da demanda mede a variação percentual na demanda quando ocorre uma variação percentual no preço do bem.


Demanda inelástica: quando a demanda é inelástica (Ep menor do que 1, em modulo), a quantidade demandada é relativamente pouco sensível às variações do preço. 

Demanda Elástica: quando a demanda é elástica (Ep é maior do que 1, em modulo), o gasto total com produto diminui quando seu preço aumenta.

Demanda Isoelástica: é quando a elasticidade da demanda é constante ao longo de toda a curva de demanda.

4 - EXCEDENTE DO CONSUMIDOR

O excedente do consumidor calculo em que medida será maior a satisfação das pessoas, em conjunto, por poderem adquirir um produto no mercado. O excedente do consumidor individual é a diferença entre o preço que um consumidor estaria disposto a pagar por uma mercadoria e o preço que realmente paga. Se o consumidor está disposto a pagar $10 por um produto que custa $5, então o excedente do consumidor é $5.

Para calcularmos o excedente do consumidor agregado em um mercado, simplesmente calculamos a área situada abaixo da curva de demanda de mercado e acima da linha do preço. Na figura abaixo podemos verificar isso.


Para o mercado como um todo, o excedente do consumidor pode ser medido pela área abaixo da curva de demanda e acima da linha que representa o preço efetivo de aquisição do bem. Na figura, o excedente do consumidor é dado pela área sombreada do triângulo, sendo igual a 1/2 x (20-14) x 6500 = 19500

5 - EXTERNALIDADES DE REDE

No caso de algumas mercadorias, a demanda de uma pessoa também depende das de outros consumidores. Em particular, a demanda de uma pessoa pode vir a ser influenciada pelo número de outros consumidores que já estejam adquirindo a mercadoria. Nesses casos, dizemos que ocorre uma externalidade de rede que pode ser positiva ou negativa. Uma externalidade de rede positiva significa que há um aumento na quantidade de uma mercadoria demandada por um consumidor típico, em decorrência do crescimento da quantidade adquirida por outros consumidores. Quando a quantidade demandada diminui, há uma externalidade de rede negativa.

6 - ESTIMATIVA EMPÍRICA DA DEMANDA

Formato da curva de demanda

Como as curvas de demanda que acabamos de discutir eram linhas retas, o efeito de uma variação do preço sobre a quantidade demandada é constante. Entretanto, a elasticidade preço da demanda variará com o nível de preço. Com base na equação da demanda Q = a - bP, por exemplo, a elasticidade preço da demanda Ep pode ser determinada da seguinte maneira:


Assim, a elasticidade preço da demanda aumenta em magnitude à medida que o preço do produto sofre elevação (e a quantidade demanda cai).

Não há razão alguma para que esperemos que as elasticidades da demanda sejam constantes. Entretanto, frequentemente achamos útil trabalhar com uma curva de demanda isoelástica, para a qual a elasticidade, para a qual a elasticidade preço e a elasticidade renda são constante. A curva de demanda isoelástica tem o seguinte formato log-linear.

Log(Q) = a - b log(P) + c log(I)

O interessante da curva de demanda log-linear é que a inclinação da linha -b é a elasticidade preço da demanda, e a constante c é a elasticidade renda.

Vimos que isso pode ser útil para distinguir entre bens complementares e bens substitutos. Suponha que P2 represente o preço de uma segunda mercadoria, que acreditemos estar relacionada ao produto estudado. Então, podemos representar sua expressão da seguinte forma:

log(Q) = a - b log(P) + b2 log(P2) + c log(I)

Quando b2, que é a elasticidade preço cruzado, for positivo, os dois bens serão substitutos; quando b2 for negativa, eles serão complemento um do outro.



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